RENOVAÇÃO SOCIAL x INVERSÃO DE VALORES

Vivemos numa época de inversão de valores, é o que muitos constatam atônitos atualmente. Constatação que geralmente parece vir acompanhada num misto de queixa com indignação por tais mudanças. Parece haver uma compreensão que tais mudanças representariam um absurdo, uma verdadeira perversão dos valores morais, um desrespeito às tradições e instituições, sinalizando a perdição de nossas gerações e das esperanças na dignidade do ser humano. Ocorre que muitas pessoas, independente da crença ou dos valores que pratiquem constatam isso. E valores errados por certos, velhos por novos, quem deterá de fato a razão? Parece ser consenso que vivemos em época de transição. O que não parece claro para muitos é que não é o fato de percebermos tais mudanças e nem de nos indignarmos com algumas ou várias delas que isso nos faz melhores do que ninguém. É curioso observar que, muitas vezes, a reação mais forte e evidente na defesa de determinados valores humanos, da sociedade ou de nossa cultura partam dos setores e segmentos mais conservadores. Por outro lado, não podemos deixar de reconhecer que, em meio à tantas possibilidades num mundo dinâmico e multifacetado como o que vivemos atualmente, é necessário, em favor dos valores mais puros e mais nobres, filtrar, selecionar, amadurecer, construir, aprovar e adotar aquelas práticas que sejam condizentes com o conceito de um “mundo melhor” e feliz que, acredita-se, a grande maioria defende e acredita. Diante disso é que acredito que é preciso basicamente um grande movimento ou esforço de compreensão quando se trata de discutir a questão da suposta inversão de valores na nossa sociedade: Quais valores são relativos, superficiais, datados e genuinamente caracterizados pelos interesses humanos provisórios e quais valores são profundos, verdadeiros, perenes, eternos e válidos para qualquer contexto e época? É assim que vemos se travar e intensificar a cada dia uma luta de ideias. Desde Jihadistas sendo defendidos pelo Ministério da Justiça no Brasil no seu direito ao respeito causando uma óbvia comoção dos guardiões da segurança nacional (não falo aqui de militares, falo aqui dos supostos guardiões da moral e dos bons costumes), chegando ao esgoto dos escândalos sucessivos de corrupção institucionalizada. É a lei da palmada provocando polêmica e discussões em torno da educação, necessidades e limites dos pais, no qual muitas vezes de fato, se invertem os valores, a escola passa a assumir papel regulador e fiscalizador, com até abuso de pressão e autoridade. Mas há também os casos reais que pedem a intervenção do Estado. O que não podemos, apesar de óbvio, é preciso dizer que há casos e casos. Vê-se a sociedade civil muitas vezes mobilizada em punir e clamando por justiça, sociedade esta que, em grande parte forma indivíduos desprovidos de maior senso crítico, que acabam por tornar-se massa de manobra de ideologias e líderes duvidosos para atender interesses exclusivos e de minorias. São grupos e segmentos que buscando alimentar-se da esperança de salvação de novos tempos de igualdade e justiça social personificam ideologias e bandeiras em alguns líderes sem considerarem os fortes indícios de corrupção e mesmo violência, a ponto de comprometer a noção de pátria. São tempos em que se acredita os valores estejam se invertendo e nos esquecemos de que há muito, certas coisas precisam ser mudadas. Ou será que é preciso discursar em favor da redução da fome, da pobreza, da miséria, da igualdade social, da inclusão a fim de corrigir erros secularmente enraizados na história humana? São tempos em que um Escritório de Contabilidade e, infelizmente vários (felizmente não todos) agem ainda assim, acreditem, defendendo a sonegação por comodidade como a via mais fácil e a prática recorrente do mercado. Defendem o erro, a omissão ao ato da correção, da regularização para simplesmente não ter o re-trabalho de reabrir a contabilidade e corrigir um erro. E o pior de tudo, chega a tal ponto essa inversão em que se faz ou se quer fazer acreditar que é mais correto “deixar como está e quanto menos mexer melhor” do que fazer o que é certo, ainda que isto seja mais trabalhoso e oneroso. Não, não é mais correto, é mais cômodo! E para quem? Dizem que não há corrupto sem corruptor. Vale lembrar que a inserção da opção do CPF na Nota no Estado do Paraná é, inacreditavelmente, visto como uma forma do Governo monitorar o consumidor e depois puni-lo com tributos e um possível rastreamento de suas compras. Ora, a Nota no CPF é uma realidade existente há pelo menos uns 7 anos no Estado de São Paulo e que, até onde tenho notícias, só beneficiou os consumidores que, não fazendo nada de ilegal e portanto não tendo o que temer, simplesmente permitiram incluir seus CPF’s no cupom fiscal para, depois, serem, como de fato o foram, beneficiados com abatimento no pagamento de tributos estaduais. É provável que muitos desses que dizem que não colocam o CPF na Nota sejam os mesmos que acreditam que vivamos uma inversão de valores, mas que também não se importariam em pagar uma cervejinha ao policial ou ao fiscal para livrar-se de uma multa. Não informar o CPF na Nota é um direito, mas evidencia em essência a intenção de ocultar ou não ver-se embaraçado com o Fisco. Alguns desses foram além e, não satisfeitos foram buscar o CPF da Dilma na Internet e, arriscando-se no crime de falsidade ideológica, lançam o CPF da Dilma na nota como uma forma de vingança para uma lei que foi implementada pelo Governador Beto Richa e que tem portanto pouca relação direta com a presidente. O consumidor e o cidadão de bem, ainda que reconheça que há valores se perdendo, infelizmente, é preciso que se diga, também tem participado e contribui para o caos e a crise ética que enfrentamos. São tablóides jornalísticos que não só distorcem, generalizam e selecionam o que publicam mas que vão além, falseando, induzindo ao erro com proposital intenção de enganar, ocultar, confundir o público e formar opinião, como foi o caso do episódio recente em que um anônimo lançou um punhado de notas falsas de dólares contendo a foto do deputado e presidente da Câmara dos Deputados, o Sr. Eduardo Cunha. Certo tablóide não só noticiou como exagerou, “carregando fortemente nas tintas” ao descrever o episódio como um ataque muito violento e o autor de tal façanha como um perigoso agressor. Veja e Isto É são revistas reconhecidamente capitalistas e tendenciosas. Mas Carta Capital e outras revistas mais modernas que adotam uma linha centro-esquerda e um discurso socialista ou qualquer ideologia de oposição podem, de fato, também ser consideradas imparciais? Me parece que não e Carta Capital só surge para preencher um vácuo num natural jogo de forças. São tempos em que este mesmo Presidente da Câmara mostra-se habilmente dissimulado, aparentemente seguro e constantemente inabalável a ponto de mentir descaradamente querendo justificar que não mentiu perante à CPI. Mente que não mente. Mostra-se capaz de argumentar, falsear a modo de parecer lógico, alegando que não é proprietário do dinheiro encontrado nas contas de Bancos na Suíça, apenas beneficiário, ainda que os documentos das instituições suíças evidenciem, textualmente, o contrário, conforme apresentado em entrevistas e noticiários. É fato cristalino e inegável que Cunha não declarou, como deveria, o tal dinheiro, que, aliás, não é pouco. Como dito no Jornal Hoje da Rede Globo, é uma tentativa engenhosa de se “safar”. Tal comportamento não é novo nem exclusivo de Eduardo Cunha. Recordo-me de que o atual Presidente do Senado Renan Calheiros, anos atrás, ao sofrer acusações mantinha perante as câmeras e microfones, postura aparente inabalavelmente poluta e tudo indicava de que deveria ou poderia ser cassado, forçando-o à uma renúncia que não ocorreu. O Congresso Nacional que tomou posse em 2015 é pulverizado partidariamente, liberal economicamente, conservador socialmente, atrasado do ponto de vista dos direitos humanos e temerário em questões ambientais. A conclusão está na sexta edição do estudo Radiografia do Novo Congresso, publicação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Segundo o estudo, apesar de ter havido uma renovação de 46,78% da Câmara dos Deputados e de 81,48% em relação às vagas em disputa no Senado, o que ocorreu foi uma circulação ou mudança de postos no poder, com a chegada ao Congresso de agentes públicos que já exerceram cargos em outras esferas, seja no Poder Executivo, como ex-governadores, ex-prefeitos, ex-secretários, seja no Legislativo, como ex-deputados estaduais, ex-senadores e ex-vereadores. Além disso, os parlamentares que nunca exerceram mandato ou cargo público limitam-se majoritariamente aos milionários ou endinheirados, aos religiosos, especialmente evangélicos, aos policiais e apresentadores de programas do chamado “mundo cão”, às celebridades e aos parentes, que contam com maior visibilidade na mídia, de acordo com o levantamento. É assim que temos ambientalistas perdendo espaço para ruralistas do agronegócio. Sindicalistas e representantes dos trabalhadores perdendo espaço para a classe patronal. Homens em sua maioria em detrimento de uma minoria de representantes do sexo feminino. Direitos humanos no embate com política de segurança com “pena de morte” (Jair Bolsonaro) e tratamento à bala para bandidos. Religiosos conversadores (Silas Malafaia, Marco Feliciano) versus a busca dos liberais por diversidade e inclusão de minorias (Jean Wyllys) , em todos os sentidos. Incluam-se ainda os midiáticos (Tiriricas, BBBs, Romários). Vale lembrar que cada qual destes políticos representa as aspirações, crenças, buscas, forma de pensar e até de agir de milhares de votantes distribuídos pelo imenso Brasil. Do meio dos protestos e manifestações públicas vistas recentemente, misturados com um legítimo clamor público encontram-se ultra-liberais, mas também aproveitadores de toda ordem, que fomentam a discórdia, o confronto, o caos e a desunião. Jean Wyllys defendeu votou pelo ensino do Islamismo, entre outras religiões, nas escolas. É simpático de Che Guevara e é confrontado por jovens com futuro promissor na política como Kim Kataguiri, integrante do Movimento Brasil Livre que defende, entre outros a República, a liberdade e o direito à propriedade e que combate abertamente o Governo Dilma e é a favor do seu impeachment. Nesse mesmo contexto político encontramos os ultra-conservadores que poderíamos supor defendem os valores humanos e interesses das mais preciosas instituições, tais como a família tradicional e o valor à vida. São estes ultra-conservadores curiosamente ligados à religiões e crenças religiosas, com destaque mas não de forma exclusiva para a conhecida bancada evangélica no congresso. E espero que se entenda que aqui não há nada contra qualquer religião ou crença em si, desde que ela esteja, para mim, alinhada aos valores e verdades supostamente válidos e universais para nossa época e a maioria da coletividade e que, o fundamentalismo religioso não deve ser maior do que o amor à espiritualidade ou a um Deus. Curiosamente, estes parecem, em sua maioria, apoiar o ilibado Eduardo Cunha. Mostram-se contra o aborto e contra a união legal homoafetiva e defendem a família tradicional, mesmo que não haja amor nela e não reconhecem outras formas de união ainda que tais uniões sejam motivadas por amor ou por esse mesmo Deus. Essa bancada conseguiu aprovar sob o comando de Eduardo Cunha a isenção de impostos sobre repasses a pastores e busca aprovar medida que concede poder das Igrejas questionarem o Supremo. De maneira mais ampla, vive-se uma dicotomização entre aqueles que defendem o impeachment e aqueles que entendem que isso seria um golpe, uma reação conservadora das elites dominantes que perdem, entre outros, espaço político, poder econômico e vêem suas propriedades e a liberdade geral ameaçada. Nesse meio, há fascistas, bolivarianos, capitalistas e comunistas. Se é certo que a liberdade e a propriedade são direitos fundamentais, é fato que é preciso, como já dito, corrigir e reparar graves erros históricos, criando maior distribuição de justiça e igualdade social em todos os sentidos. Nesse momento, não há melhores nem piores. O que há é um enorme caldeirão de situações e tendências aparentemente opostas, mas que, um olhar mais atento e aprofundado pode revelar que há mais elementos de um no outro lado do discurso do que se imagina, justamente porque começa-se a se evidenciar que, o que defendemos (discurso), nem sempre e muitas vezes não tem sido o que de fato praticamos, qualquer que seja a ideologia, os valores, as crenças, os lados, a situação econômica, a ideologia, a posição política, o partido, a bandeira que defendamos. Parece haver sempre um pouco de culpa na vítima assim como um pouco de inocência no agressor. O que nos deveria fazer recuar em nossas lutas ideológicas e repensar posturas. É fato que vivemos numa época de transformações rápidas e profundas. O que penso valer a pensa considerar é que, em tempos em que se aguarda, se sabe e até se espera uma profunda renovação geral, não podemos mais usar valores temporários, antigos e/ou supostamente ultrapassados para tempos novos. Resta-nos saber então quais valores devem ser descartados e deixados para ir embora junto com o velho mundo e quais valores devem ser preservados assim como quais novos valores podem e devem ser desenvolvidos de acordo com a época atual e futura. Haveriam valores válidos para qualquer época e tempo? Todo conservadorismo precisa ser superado naquilo que tem de limitado para dar lugar a valores mais apropriados ao contexto e às necessidades atuais e futuras. Da mesma forma que os homens deveriam ser capazes de preservar um conservadorismo, uma “tradition” que valorize tudo aquilo que é universal, belo, eterno ou divino. O que nos leva à questão da relatividade na interpretação das coisas e da importância subjetiva para cada pessoa. O que é belo ou eterno para um não é para outro. Então, como discernir e escolher? O bom senso aliado ao desinteresse de juízo, capaz de observar de forma ampla, o contexto e não só segmentos e situações isoladas parece ser um indicativo. Nesse caso, como realizar tal proeza? Uma postura genuinamente filosófica e não uma filosofia em particular poderia nos ajudar, afinal, até mesmo nas filosofias encontramos o espírito contraditório humano. Mas a postura filosófica, de busca pela verdade, parece nos colocar numa condição de abertura para a compreensão e o aprendizado, suspendendo nossos juízos, crenças e valores e evitando uma possível contaminação na análise e na defesa visceral que muitos fazem de suas verdades. Uma tradição, uma ideia cristalizada, um paradigma e determinados valores podem servir a determinadas épocas e sociedades, assim como muitas vezes têm servido a determinadas classes econômicas e sociais mais do que a outras. Era interesse para a Igreja sustentar que a Terra era o centro do Universo e que não girava em torno do Sol. A escravidão era legalizada e um fato tido como normal para sociedades de 150 anos atrás. A classe dominante não considerava a escravidão um erro e a abolição, quando defendida, era vista como minoria e provavelmente quem a defendia era hostilizado. Mas, alguns valores praticados e cultivados por determinadas civilizações e sociedades não são e não podem ser mais resistentes que uma verdade universal e atemporal. Estes primeiros seriam produtos de culturas e civilizações com prazo de validade. Quando se fala em prazo, não devemos imaginar discussões restritas à política (sem faltar da arte, da cultura, das tecnologias, buscas religiosas e filosóficas) para os próximos 5, 10 ou 20 anos, onde governantes, partidos e ideologias sem lastro maior na história acabam por predominar temporariamente e infelizmente, hoje parece que só nos atemos a esses curtos períodos de poucos anos. Acaso não é assim hoje a polarização das discussões políticas em torno da ditadura no Brasil versus os comunistas, socialistas rebeldes e revolucionários que atualmente governam, aliás com uma política econômica muito próxima do neo-liberalismo que tanto criticam e uma postura regulamentadora com censura disfarçada de monitoramento da liberdade de imprensa que beira à repressão, à lei da mordaça e ao controle ditatorial do regime militar? Prática aliás similar aos países de política bolivariana e que são simpatizantes do atual governo brasileiro? Adotam, por força das circunstâncias e necessidades econômicas, ou por mera conveniência, ações que vão contra a classe trabalhadora que defendem, porque agora vivem, na prática, aquilo que um dia idealizavam como gestão e governo ideal. A história mostra que o discurso é diferente da prática, que o social em detrimento do capital tem um limite, o da sustentabilidade, e que ambos precisam coexistir num delicado equilíbrio de gestão a ser decifrado não só pelas ideologias que passaram pelo Brasil nos últimos 50 anos, mas como para grande parcela da humanidade, exceção feita talvez a poucos países dos Alpes Suíços. A análise histórica desse curto período de tempo, mostra-nos, entre outras coisas, que o ser humano é mais frágil e suscetível às pressões coletivas, abdicando de valores que julgava ser seus, próprios, pessoais, particulares e imutáveis frente à tentação do dinheiro fácil que corrompe, da sedução irresistível do poder a qualquer preço que promove a indiferença e a vilania, do radicalismo de ideias e ideais disfarçado de patriotismo e traduzido na rigidez truculenta capaz da violência e dos extremos da tortura e do extermínio...Os exércitos, muitas vezes cultivando valores nobres no coração de seus efetivos e dentro de seus muros como a coragem, o amor à pátria e o serviço à sociedade, estiveram, infelizmente, à serviço do poder econômico e político, com base no uso da força e das armas. A história mostra-nos que valores práticos são muito diferentes de valores idealizados e quando há dicotomia entre estes dois, o resultado é, como dissemos, que a prática é uma coisa e o discurso é outra. Por fim, mostra-nos também que nenhum dos dois extremos e dos valores amplamente difundidos e defendidos por qualquer das situações supostamente e diametralmente opostas foi suficiente ou completamente incorreta ou correta. O pêndulo da história apenas deslocou-se de um extremo a outro, indicando o final de um curto clico localizado e que o ápice desse movimento histórico em breve chegará ao seu fim, abrindo espaço para não só uma compreensão maior a respeito do que de fato ocorreu no interstício dessas gerações compreendidas entre a Ditadura e um governo de centro-esquerda com discurso sócio-comunista bem como guardando aprendizados para o porvir. Como bem disse um General a este respeito, a história só poderá ser analisada de forma isenta quando estas gerações passarem. Seguindo mais além, lembremos de que em se tratando de valores atemporais, não falamos de algumas décadas nem tampouco de um século ou dois. Ampliando nossos horizontes temporais, resgatemos de forma breve a trajetória de algumas civilizações, com foco na civilização egípcia, cuja passagem pela história hoje está praticamente restrita apenas a vestígios materiais de sua existência entre nós. A esfinge pode datar de 3 mil anos a.C. A Civilização conta com tempo bem superior, acredita-se que o Egito tenha experimentado períodos de pesadas chuvas nos milênios que marcaram o deslocamento pós-glacial da zona temperada em direção ao norte. Tal período teria durado de 10000 a 5000 a.C. e no seu final o Saara tinha se transformado de savana verde em um deserto. Outra época ainda mais intensa de chuvas, embora mais curta, teria ocorrido de 4000 a 3000 a.C A história está repleta do surgimento, desenvolvimento, ápice e declínio não só de povos, civilizações e raças, mas de suas culturas, seus modelos políticos, econômicos e sociais. Com o maior Império do mundo até então conhecido de Alexandre, o Grande, foi assim. O Império Romano não resistiu à derrocada moral de sua civilização e às invasões bárbaras. Teóricos formularam as mais diversas interpretações a respeito de tais ciclos. A insinuação implícita na Teoria dos Ciclos de Civilização, por exemplo, é que todas as civilizações, não importa quão magníficas sejam, estão condenadas a decair e ruir. Durante séculos, historiadores, teóricos políticos, antropólogos e o público em geral tenderam a pensar na ascensão e na queda das civilizações em tais termos cíclicos e gradativos . Os ciclos e por consequência as renovações e mudanças advindas deles são mais óbvios na astrologia, que é, podemos arriscar a dizer, essencialmente baseada nestes. Assim, o ciclo individual dos astros de nosso sistema solar, a exemplo de Júpiter, Saturno ou Plutão, pode revelar períodos de crise ou prosperidade individual ou coletiva. Descartemos aqui a crença de que o Zodíaco não é capaz de determinar o destino das pessoas e consideremos apenas a possibilidade de influenciar, o que é bem diferente de determinar, a vida das pessoas. Além disso, no campo individual, para todo aquele que crer e julgar que assim é, é provável que, muitas das previsões zodiacais tenham maior ou menor força de atuação e realização em suas vidas pessoais e na forma como interpretará os acontecimentos da vida. Mas, para os menos supersticiosos e mais tradicionalistas, eles, os ciclos, não estão presentes apenas nas tradições esotéricas e místicas, mas também nas tradições religiosas remotas como a do povo hebreu, que em sua tradição se dedica a estudar, compreender e decifrar os ciclos para Deus. Apenas a título de exemplo citemos no Judaísmo o Shabat, o Shemitah e o Jubileu. O Shabat é o último dia de um ciclo de 7 dias que deveria ser dedicado ao descanso. O Shemitah é o último ano de um ciclo de 7 anos que deveria ser dedicado ao descanso. O Jubileu ocorre após sete períodos de sete anos (7 Shemitahs), quando o quinquagésimo ano seria santificado por Deus - este seria o ano do jubileu. Retroagindo no tempo, encontramos nas tradições religiosas mais remotas da humanidade, no Bhagavad-Gita que segundo os Vedas, o cosmos material se manifesta em ciclos de quatro eras: Satya, Treta, Dvapara e Kali. A era de Satya é caracterizada pelas boas virtudes e todos os seres humanos que vivem na Terra são repletos de qualidades divinas. Na era de Treta, há um declínio das virtudes e a Terra passa a abrigar ao mesmo tempo seres divinos e seres demoníacos. Na era de Dvapara, o aumento da irreligião e da impiedade se acentua e o divino e o demoníaco passam a viver na mesma família. Finalmente, na era de Kali, ou era das trevas, há um predomínio total de irreligião, hipocrisia e desavenças, e a natureza divina e demoníaca habitam lado a lado no mesmo corpo. Desse modo, foi há cinco mil anos, entre o final da era de Dvapara e o começo da era de Kali, que a Pessoa Suprema, Bhagavan Sri Krishna, veio à Terra e transmitiu para Arjuna este conhecimento sublime do Bhagavad-gita, removendo, assim, todas as suas dúvidas, ansiedades e lamentações. O cenário do Bhagavad-gita foi o campo sagrado de Kurukshetra, minutos antes da batalha mais violenta já registrada pela história dos últimos tempos. Naquela época, a Terra e seus habitantes estavam sendo atormentados pela influência perturbadora de indivíduos materialistas e cobiçosos e, como é confirmado no Capítulo Quatro do próprio Bhagavad-gita, em tais situações, o próprio Senhor sempre desce a este ou qualquer outro planeta para eliminar os elementos indesejáveis e proteger diretamente as pessoas piedosas. Falemos agora em ciclos da perspectiva dos astros e, portanto, numa escala de tempo muito maior que várias das nossas gerações terrenas são capazes de abarcar e compreender num único olhar, a não ser que se abarque o ciclo inteiro. Consideremos, por exemplo, o tempo de 26.000 anos para que nosso Sol complete sua órbita em torno da Constelação de Alcione. A cada dez mil anos, o Sistema Solar penetra no anel de fótons por dois mil anos, ficando mais próximo de Alcione. A última vez que a Terra passou por ele foi durante a “Era de Leão”, há cerca de 12.000 anos. Na Era de Aquário, que está se iniciando, ficaremos outros 2.000 anos dentro deste disco de radiação. Todas as moléculas e átomos de nosso planeta passam por uma transformação sob a influência dos fótons, precisando se readaptar a novos parâmetros. A excitação molecular cria um tipo de luz constante, permanente, que não é quente, uma luz sem temperatura, que não produz sombra ou escuridão. Talvez por isso os hinduístas chamem os tempos que estão por vir de “Era da Luz”. Desde 1972, o Sistema Solar vem entrando no cinturão de fótons, e em 1998 a sua metade já estava dentro dele. Em que momento presente estaríamos diante de inúmeros ciclos a que estamos sujeitos? Não estaríamos diante de o final de um grande ciclo, o qual foi amplamente divulgado, previsto e profetizado? Não seriam um destes ciclos em que marcaram o desaparecimento da civilização egípcia ou maia? Ou o fim de um período de encerramento dos abusos e excessos tais como do povo romano e seu império militar? Não seriam as agitações humanas, o confronto de ideias, a inversão de valores reflexos de um tempo que se aproxima e que tende por acentuar tais acontecimentos? A modernidade, a inovação, a vanguarda de ideias renovadoras, a busca e conquista por liberdade e direitos deve ser capaz de substituir e melhorar o modo de vida, as condições existenciais do ser humano, ampliando, incluindo e estendendo benefícios a um maior número de vidas, mundos e maneiras de existir. Porém, toda renovação de valores deveria se restringir até o limite em que não subverte, derruba ou tenta revogar os valores mais reais e profundos da vida, porque estes, ainda que nem sempre praticados ou cultivados no seio da cultura e de nossas sociedades, empresas e famílias, são, de certa forma, o destino inevitável a que estamos sujeitos. Quem então poderá pretensamente reivindicar a posse individual de respostas e soluções para questões tão complexas que fogem à ação humana? Nesse sentido é que entendo ser necessária a moderação e até uma certa imparcialidade para tempos difíceis e espero sinceramente que esta seja uma posição coerente e válida para tais momentos. Em meio a uma crescente e acentuada violência e perda evidente do valor e respeito à vida humana, não podemos combater e generalizar todas as mudanças. Como não emocionar-se ao ver que os casamentos dos jovens de hoje já não seguem aquele ritual morno e formal das igrejas e são renovados pela criatividade, a leveza e o bom-humor? É assim que alguns se casam agora embalados ao ritmo de uma música moderna e empolgante de que fato gostem e faça sentido para o casal. Ou então de surpresas agradáveis por parte de um dos noivos, de desafios e brincadeiras que envolvem os convidados, ou ainda, de um duelo eletrizante de sabres de luz ao som da trilha sonora de Star Wars. Como não ver nisso uma inversão de valores? Como não ver nisso uma boa inversão de valores? Quantos bons exemplos poderiam ser enumerados? É necessário sim, subverter alguns valores bem como preservar outros. De fato mudanças estão mais evidentes e se não há uma total inversão dos valores (acredito que não), há, ao menos uma realocação, um rearranjo de tais valores onde aqueles descartáveis e adotados por elites, por classes dominantes, por ideologias obscuras e humanas darão lugar, como já dito, para valores mais atuais, condizentes e coerentes não com nossas gerações, mas de acordo com gerações futuras, afinal, nosso tempo não é parâmetro, é um tempo de transição em que praticamente tudo está em debate, sendo questionado, revisto, resultando lutas de ideias que amanhã já não mais existirão, prevalecendo, o que é real, verdadeiro e profundo sobre o que é circunstancial, datado e ultrapassado. Muitos desejam a renovação social, poucos estão dispostos a rever ou mudar seus próprios valores.

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